Sobre a (não) bolha de UX

Com o avanço do Covid-19, vivemos uma crise gigantesca no mundo, não preciso dizer isso. Com isso, demissões em massa no mercado, com muitos designers sendo desligados e empresas cortando times pela metade, pequenos empreendedores fechando e por aí vai.

Porém, sobre a bolha de UX, que muitas pessoas acreditam que existe, outras que não, aí vai o que eu penso:

A bolha é geral, não só em design como eu pensava. Mas quem viveu a bolha da internet como eu vivi sabe que as características são as mesas, investimento demais, facilidade demais para entrar no mercado, falta de planejamento das empresas com gastos exagerados em coisas inúteis e produtos que não tem modelo de negócio decente.

Se isso não é bolha, eu não sei o que é. Sim, repito, não é uma bolha só para UX, já disse o contrário e hoje entendo melhor isso, como já comentei que adoraria estar errado da não existência da bolha, mas…

Vi muitos comentários falando sobre os conceitos de design que se perderam, como design deixou de entregar o valor que fazem das empresas algo maior. Concordo e vejo inclusive que passamos muito tempo olhando para como deixar botões melhores, textos mais eficientes, timelines mais bonitas, cargos de LinkedIn mais atraentes, e aí assumimos que não há bolha.

As startups de hoje são as empresas de internet do passado, alguém lembra da Usina do Som? Alguém lembra do Zip Mail, da força da AOL, do Yahoo?

Na bolha de 2000, por conta do aumento da taxa de juros do Federal Reserve, os investimentos foram direcionados para empresas como Cisco e IBM, o que fez as empresas menores perderem o valor de mercado, com menores investimentos, entrando assim em falência.

Trago dois trechos de um artigo do Tecmundo (link no final) para comentar:

“Entre as do meio-termo, dá para citar o Yahoo!, que já teve a história contada por aqui. A empresa tinha tudo para virar uma gigante, mas fez uma série de decisões questionáveis inclusive pré-bolha, tipo comprar ar a empresa de rádio online Broadcast.com por 5 bilhões de dólares e descontinuar ele três anos depois. A AOL também nunca mais foi a mesma.”

Algo parecido com o que vemos aqui no Brasil com as startups? Aquisições, fusões? Investimentos em espaços lindos, maravilhosa arquitetura, nos centros comerciais mais badalados? Contratação de designers com pouca experiência com salários a cima do padrão do mercado tradicional?

Quando eu estava na Avanade, os profissionais de lá saíam por salários 3x maiores, por mais que a Avanade não tenha uma média alta, 3x a mais é ótimo para o profissional mas arriscado para a empresa contratante. Sim, não imaginava que essa pancada viria tão cedo.

Segundo trecho:

“…o investidor Fred Wilson, que ajudou a financiar empresas da bolha, tem uma teoria bem curiosa. Ele diz que o estouro dessas crises na verdade é uma coisa boa. Isso porque alguns dos gastos descontrolados são bem feitos e deram origem a empresas boas, softwares de qualidade e aumentaram a infraestrutura da internet. Foi um sacrifício enorme, mas por uma boa causa.”

Vale pagar o preço para chegar em uma crise dessa e perder muito do esforço feito? Qual é o impacto na empresa e no produto após uma crise como essa?

Sim, não sejamos hipócritas, em certos ramos, como por exemplo o do turismo, o baque é MUITO avassalador, porque as pessoas não viajam mais, simples, e empresas que precisam de capital de giro para receberem lucros, passam por um aperto maior ainda.

Por outro lado, em outro artigo da Suno Research:

…uma demanda crescente por computadores reduziu o preço desse produto, estimulando ainda mais o desenvolvimento das empresas .com

Logo, começou a surgir diversas empresas na área, muitas delas movidas pela ganância de ganhar dinheiro fácil e rápido. Inclusive muitas delas abriram o capital sem ao menos gerar lucros”

Novamente, vou devagar nesse critério, a bolha de 2000 tem muita conexão com empresas com ações na bolsa, mas outras empresas com investimentos muito altos e sem ações na bolsa não resistiram.

Amazon e Ebay passaram pela crise de 2000, Amazon sofreu e Ebay com um modelo de negócio sólido passou pela crise de forma mais tranquila (pelo que pude pesquisar). Vide Mercado Livre no Brasil que tem uma força imensa com (aparentemente) uma solidez invejável no negócio (pelo que eu também pude pesquisa).

Outro trecho de artigo, dessa vez do Terraço Econômico:

“Pouco antes de estourar a bolha da internet, o número de ofertas particulares, IPOs, fusões e aquisições foi o maior já visto em Wall Street. Empresas sem nenhum plano de negócios, expectativa de receita ou lucro atraim milhões em investimento.”

Mais uma conexão com o que estamos vivendo? Comportamento das Startups e dos grandes bancos? Sobre algo que se conecta com UX, veja só esse trecho:

“Empresas como Ebay e Amazon não pereceram à crise. Elas se mostraram muito superior às outras empresas virtuais por reconhecerem que a experiência do cliente era essencial e é por isso que elas existem hoje.”

Só para lembrar que o produto pelo produto, o texto amigável, a home com flat design, boa interface ou qualquer outra coisa, o monte de research para encontrar sei lá o quê ajudam na experiência, mas NÃO SÃO a experiência.

É claro, eu realmente espero estar errado, de verdade, espero que essa bolha não seja bolha de verdade, mas por hora me parece que é.

Até mais.

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Lista de links:

https://www.tecmundo.com.br/mercado/124475-historia-estouro-bolha-da-internet-ano-2000-video.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolha_da_Internet

https://www.sunoresearch.com.br/artigos/bolha-da-internet/

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